segunda-feira, 16 de julho de 2012

Que os irmãos sejam afáveis

 

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Francisco Matriz”E onde estão e onde quer que se encontrem os irmãos, mostrem-se mutuamente familiares entre si” (Regra bulada 6, 8 )
1. Os discípulos de Cristo são irmãos. Cristo veio viver e pregar uma fraternidade revolucionária. Anuncia a derrubada de todas as barreiras da indiferença, da superioridade, da acepção de pessoas, barreiras levantadas pela vontade de vingança, retaliação, ódio. Francisco, o irmão de Assis, compreendeu que os seus deveriam ser irmãos, irmãos simples e pequenos, irmãos menores, irmãos de toda criatura humana. A fraternidade é um mistério. Cristo vem até nós para nos ensinar a amar. Cristo ama em nós.

 

2. Os terceiros seculares conhecem também o mistério da fraternidade. Vivem no seio da sociedade. Encontram-se com comerciantes, concorrentes, pessoas delicadas e seres complicados. Vivem em suas casas com parentes simpáticos e outros que criam dificuldades. Sempre de novo se exercitam na arte de escutar, compreender, desculpar, perdoar. Procuram não elevar o tom da voz, não chamar atenção para si, nem reivindicar seus direitos, embora pudessem fazê-lo. Lembram-se sempre do Menino das Palhas que se tornou nosso irmãozinho no presépio, pão que nutre a fraternidade na Eucaristia e dom ilimitado, fraternamente universal, quando elevado da terra ao céu. A bandeira do cristão e do franciscano que professa viver a Regra do Evangelho é esse querer bem, viver a familiaridade dos irmãos.

3. Francisco manifestava especial carinho e zelosa fraternidade para com os que viviam o sofrimento. É São Boaventura quem o garante: “Com grande ternura se compadecia de todos os que se encontravam aflitos por causa de alguma enfermidade corporal. E quando encontrava em alguém indigência ou necessidade, na suave piedade do coração, a considerava como sofrimento do próprio Cristo” (Boaventura, Legenda Maior 8,5). Pensamos aqui, de modo particular,em nossos irmãos e irmãos enfermos e envelhecidos. Esses olhos parados, essa tristeza no fundo do coração, esse desejo de terem perto deles uma mão para apertar antes de terminarem os dias de sua trajetória!!! Que os irmãos sejam familiares entre si!

4. Na Regra não-bulada onde transparece o mais genuíno espírito de Francisco, lemos com emoção: “Amigos nossos, portanto, são todos aqueles que injustamente nos causam tribulações e angústias, vergonha e injúrias, dores e tormentos, martírio e morte; a estes devemos amar muito, porque a partir disto que nos causam, temos a vida eterna” (22,3-4). Os que nos causam dores e aqueles que nos perseguem nos dão ocasião de amá-los, exigem, nosso amor, e assim podemos tranqüilamente, empurrar as portas da glória porque amamos aqueles nos fizeram mal!

5. Os franciscanos, sejam eles quais forem, vivem em fraternidades. Os da primeira ordem não se desligam dos irmãos porque vivem juntos, comem juntos, rezam juntos. Os seculares se reúnem freqüentes vezes e têm gosto de se chamarem irmãos. Cultivam eles o amor fraterno no dia a dia de suas vidas. Não existe entre eles indiferença. Pensam uns nas necessidades dos outros, uma visita, uma palavra de estímulo por uma vitória obtida ou por um sonho realizado. Sentem a falta do irmão na reunião ou na celebração. Informam-se. Telefonam. Buscam. São sinceros em suas manifestações de atenção e de carinho. Onde quer que se encontrem manifestam ternura porque se sentem familiares uns dos outros. Sem apelos emocionais alegram-se mutuamente. Uns contam com os outros.

6. Os franciscanos são corteses e afáveis. Em suas fraternidades e quando vão pelo mundo evitam brigas e discussões. Não julgam os outros, mas são pacíficos, modestos, afáveis, falando a todos honestamente como convém (cf. Regra bulada 3, 11).

7. Em razão da condição de cristãos leigos seculares os irmãos vivem dispersos pela cidade e por determinada região. Por isso, os momentos de reunião são de fundamental importância. Os que chegam trazem seu coração desejoso de manifestar e acolher cortesia. Os irmãos reunidos se abastecem para viver a fraternidade no meio do mundo. Quando os irmãos se reúnem em nome de Cristo a fraternidade vive um tempo forte. Nesse momento, de modo muito particular, se mostram familiares entre si. Tal se dá quando há acolhida sincera de uns pelos outros, quando se evitam grupos de “preferidos” na fraternidade, quando todos procuram fazer que todos participem de tudo e contem aos olhos dos outros, quando se cria na fraternidade um clima de mútua e delicada confiança.

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