- Introdução e Copilação: Fr. Ricardo Aparecido Rodrigues, OFMCap
O CAVALEIRO DE ASSIS
Jovem rebento de uma família emergente do burgo assisense, João, chamado Francisco sonhava
com a glória e as cruzadas. O historiador Franco Cardini conta como um dia, numa igrejinha
fora da cidade o Crucifixo lhe falou. E a história mudou seu curso.
“Cesco, chamou a voz da mãe. Silêncio e calor ao redor, numa sonolenta e avançada tarde italiana. Mais uma vez um convidativo e jocoso: Cesco”. Bater de asas no pátio sob a parreira e o suave azul da paisagem umbra distante, na direção da planície. Assim, num breve relato editado pela primeira vez em 1919, Aus der Kindheit des Heiligen Franz von Assisi, Herman Hesse imaginava um momento da infância de Francisco. As mãos carinhosas da mãe sobre a fronte, o arranjo de mil flores para oferecer à Virgem Maria e os sonhos de um futuro glorioso, um futuro a ser vivido como cavaleiro, como Rolando e Lancelote.
Todos os biógrafos de Francisco, e há mais de um século já foram tantos, se curvaram com mais ou menos atenção sobre a obscuridade dos seus anos de infância e da primeira adolescência: anos silenciosos, tidos no entanto unanimemente como decisivos, durante os quais se forjou aos poucos, dia a dia, um homem que iria ensinar ao mundo um modo diferente de sentir e viver o cristianismo, mais ainda sentir e viver o Cristo. Convertido, no jovem que se despe nu, coram patre, e que expõe “obsequiosamente sua dura intenção” ao papa Inocêncio III, se procu-rou perceber, mais de uma vez, a sombra do garo-to de Assis que ele fora, em busca quase, muito além da escassís-sima documentação, sinais premonitórios de um destino excepcional.