quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pelo SIM de Maria, conhecemos a salvação!

Maria-e-Sao_Gabriel Última semana do advento. O céu começa a ser riscado pela luz da estrela que brilhará em Belém. A menor cidade da Judéia não imaginava que de seu ventre brotaria a salvação da humanidade. Mas, para isso era preciso que uma mulher aceitasse os planos de Deus para o Seu povo, ainda que a concordância pudesse resultar na sua condenação. Como, uma mulher distinta, prometida em casamento a um homem da descendência de Davi poderia ficar grávida, sem que causasse espanto na sociedade?
Numa noite, eis que aparecesse um anjo a esta formosa mulher, que com sua humildade compreende a mensagem de Deus e despoja-se totalmente de sua vida e vontades para permitir que a Salvação se fizesse presente. Somente com muito amor, um ser humano seria capaz de tamanha convicção.
Sim, Maria estava convicta de que o anjo que aparecera não era fruto de sua imaginação, e sim o enviado de Deus para anunciar a vinda do Messias tão esperado. A exemplo do anjo, o profeta Isaías, cerca de nove séculos antes do nascimento de Cristo, anunciara ao rei Acaz, filho de Jotão (cf Mt 1, 9b) da descendência de Davi, que uma virgem daria a luz a um menino e que Ele seria conhecido como o Deus conosco (cf Is 7, 14).
A profecia feita por Isaías relatada na primeira leitura deste fim de semana se dá num contexto em que o rei Acaz, em um momento de falta de fé, chega a ponto de sacrificar o próprio filho a um ídolo (cf II Rs 16,3). Com a morte do filho, o projeto de Deus parecia fracassar, pois não teríamos mais descendentes de Davi no trono, como o próprio Deus prometera. Mas, o profeta acreditou e trouxe a mensagem de esperança ao povo: maior do que o desespero social em que a nação se encontrava, estava a certeza de que Deus nunca deixaria de lado a sua criação, o Seu projeto mais audacioso, ainda que seu povo esmorecesse na fé, como acontecera com o rei Acaz. O descendente de Davi que daria continuidade ao plano de Deus seria o próprio Deus, que resolvera sentir mais de perto o Seu projeto mais aguerrido: o homem. Era o verbo encarnado na humanidade (cf Jo 1, 14), que viera ao mundo para redimir todo o pecado já conhecido. E tal vinda só pôde acontecer com a adesão total desta mulher ao plano do Pai: Maria, a virgem cheia de graça; primeira testemunha da salvação e primeira a comungar do próprio Cristo, o pão que nos devolve a vida quando ela parece perdida, assim como a paz. Esta é Maria, pela qual nos é dada de novo a graça que por Eva tínhamos perdido (cf pref Advento).
Sempre acostumados a meditar o nascimento de Jesus a partir da concepção sem mancha da Virgem Mãe, narrada em Lucas (cf. Lc 1, 26-38), desta vez somos levados a refletir sobre o mistério da encarnação a partir de José. O carpinteiro é não ganha uma palavra sequer nas Sagradas Escrituras, mas seus atos falam por si só. José, segundo a lei, teria que denunciar Maria às autoridades (cf Dt 22,21), pois ele ainda não tinha tido nenhum tipo de relação com a mesma, isto é, não era o pai do filho que ela esperava. Mas, como nos diz a passagem do evangelho, José era um homem justo, ou seja, sabia da integridade de sua prometida, logo preferia partir a denuncia-la. Enquanto José discernia sobre como abandonar Maria em segredo, um anjo lhe aparecesse em sonho e lhe revela o mistério da encarnação. O filho era obra do Paráclito e por isso Maria continuava pura; guardara bem a casa, isto é, seu corpo, assim como limpara todos os seus recantos. Como não tinha nenhuma mancha, se ergueu ali a morada espiritual, fundada sobre a pedra angular , tornando-se sacerdócio santo, tendo o Espírito Santo habitado nela (cf. trecho do livro A Virgindade, de Sto Ambrósio). Espírito Santo que dá autoria a Jesus em sua missão de devolver a visão aos cegos e a libertar os cativos da prisão (cf Rm 1, 4; Lc 4, 19), o mesmo Espírito que nos santifica e nos devolve a coragem para enfrentar os desafios da vida. O amor de Deus é tão grande para com o Seu povo que mesmo depois de ter enviado Jesus para morrer em expiação de nossos pecados, quis permanecer ao nosso lado, dentro de nós, nos inspirando em todas as nossas ações, mediante o soprar de um vento acalorado, repleto de ousadia e vigor.
Assim age o Espírito Santo: a cada vez que o invocamos com fé (cf Lc 11, 13) , o Pai nos concede a graça de sentir o Seu fogo abrasador, que nos cura e liberta e nos chama a ser missionários, levando o evangelho a todos as nações (cf Mc 16, 15) e a converter os povos todos à prática dos ensinamentos de Cristo, cujo amor é total; isto é, Ágape (terminologia grega para indicar um amor calcado na entrega total ao outro). Não deixemos passar o calor do Espírito sem que ele nos incendeie. Assim, deve ser neste Natal que bate às portas: sentir a presença do menino Jesus que vem ao nosso encontro em busca de um abrigo na manjedoura de nosso coração e se permitir consumir totalmente no fogo da salvação.
Aquele que agora estava nidado no ventre da Mãe recebeu o nome de Jesus e seria conhecido com o Emanuel, assim como dissera o anjo a José: Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco (cf Mt 1,23b). Sim, Deus enviou o próprio filho para estar conosco todos os dias até o confim dos tempos (cf Mt 28,20), a ponto de faze-lo humano como cada um de nós, a exceção do pecado. E ao experimentar da própria criação, Deus sentiu que a humanidade trilhou caminhos errados, chegando ao cúmulo de ignorar e ultrajar o próprio Messias. Poucos entenderam o caminho a ser seguido e renunciaram ao mundo para seguir o Salvador. Pescadores, cobradores de impostos, perseguidores: Jesus escolheu os que geralmente desprezamos e os capacitou para a vocação confiada. Isso nos leva a refletir que não somos de Cristo por vontade própria, e sim porque Ele nos amou primeiro (cf Rm 1, 1) e nos quis por inteiro.
Portanto, assim como Maria, possamos anunciar a Deus que seja feita a vontade d’Ele em nossas vidas e sem medo, o mais ignorante, o mais injusto e o mais cruel dos conselheiros (Edmund Burke), dar o nosso SIM definitivo, contribuindo com o processo de salvação e de edificação do reino de Deus. Que o Senhor nos abençoe nesta caminhada de entrega cujo destino é o amor incondicional e o colo que o Pai quer oferecer a cada um de nós.
Assim seja!
Michaell Grillo

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