quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NO VIGOR DA MISSÃO


Possamos em breves palavras meditar um pouco sobre o espírito missionário que transpassa todas as manifestações do carisma franciscano; ardor que levou muitos irmãos, num clímax de coerência e amor, a restituírem o dom de suas vidas pela reverência do martírio.
O modo franciscano de viver o santo Evangelho tem sua gênese na escuta do próprio, quando trata do envio dos apóstolos e como deveriam ir pelo mundo. Nesse vigor evangélico de quem é sempre “enviado”, Francisco coloca o ponto de partida da missão na divina inspiração. O missionário não ruma para a realização de um capricho, da vontade de conhecer ou de se auto-promover; ele sente no profundo de si mesmo um palpitar mais forte, que o impulsiona a ser portador e difusor da boa nova. Percebe que a vida inteiramente voltada para o “eu” é desperdiçada, pois não alcança a plenitude exemplificada no Cristo, a doação.

Para Francisco o irradiador do Evangelho não se coloca como superior, ou vê nos outros vis pecadores. Ele adota a postura da estima e da retidão humilde de quem sabe, que se houvessem recebido semelhantes graças, certamente seriam pessoas melhores do que ele próprio. Da mesma forma como uma pintura ou desenho honra a Deus sem atribuir-se nada, também devemos nos colocar em missão apontando na direção do criador.
Nosso pai seráfico coloca como condição desse apostolado a idoneidade, e idôneo é quem é capaz da modalidade mais eloquente de evangelização: o exemplo de vida cristã. Seu viver deve ser radiante por si só, mais simples e claro do que qualquer palavra. Nas FF temos que “o modo de vida dos irmãos entre as pessoas deveria ser tal que quem os ouvir ou vir, glorificasse o Pai celeste e o louvasse devotamente.” (LTC 58,3)
Em meio a momentos críticos da história, quando a Igreja se punha em cruzada pelos lugares santos, a única arma do santo de Assis e de seus filhos foi a cruz. Cinco pequenos e grandiosos frades vão ao Marrocos pregar e sobretudo dar testemunho do Verdadeiro Bem, e se tornam por coragem e fidelidade os primeiros mártires da Ordem. Ainda hoje são muitos os que ouvem o chamado de Deus ecoar em lugares longínquos e por vezes hostis, levando-os a testemunhar de forma silenciosa e a evangelizar como Maria. O Poverello nos adverte que, ninguém deve se gloriar pelos méritos alheios. Cada qual tem as oportunidades, de uma forma ou outra, de entregar-se em e à missão.
Temos de ponderar sobre o significado habitual dado a palavra martírio, igualando-a a sacrifício, derramamento de sangue por vezes estéril e sem sentido. O sacrifício de Deus é sacrifício de amor, é o sacro-ofício de amar aqueles que o Amor ama de forma plena. Onde morte é faltar às verdadeiras batalhas e viver é ser um farol para os que se perdem numa existência vã, esquecidos de seus afazeres de trabalha- dores e aprendizes, isolados numa bolha de egoísmo e auto-piedade. Então perguntemo-nos todos: como eu posso ser missionário hoje, ainda que continue no espaço geográfico onde me encontro?
Frei Gabriel Vargas Dias Alves, OFM

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