terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Maria: Formadora de Jesus em nós

101_0698 (FOTO: Imaculada Franciscana que se venera na Ig. do Seminário da Luz. )
Antes de falarmos sobre Maria, a formadora de Jesus em nós, somos convidados a olhar para Moisés e a sua intimidade com Deus, como esta intimidade transforma não só o interior como o exterior: Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas do testemunho. Não sabia, enquanto descia o monte, que a pele do seu rosto resplandecia, depois de ter falado com Deus. (…) Os filhos de Israel viam resplandecer a face de Moisés que, em seguida, tornava a colocar o véu sobre o rosto, até entrar novamente para falar com Deus. (Ex 34, 29-35)

Começamos por tomar consciência de que só deixando-nos inteiramente inundar pela presença e Luz de Deus, nos deixaremos transformar inteiramente por Ele. O nosso exterior deve ser o reflexo do que vivemos interiormente. É uma forma de transfiguração, esta subida ao monte para dele descer com a Palavra e a Luz de Deus e, assim transfigurados, seremos sinal da Sua presença no mundo.
Olhemos então agora para MARIA DE NAZARÉ, chamada de MULHER DA BEM-AVENTURAÇA: “Enquanto Ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!” (Lc 11, 27).
Maria é FELIZ, é a BEM-AVENTURADA por excelência. Não é Ela que o afirma de si mesmo, nem sequer, neste caso, aqueles que A conhecem mas tão simplesmente os que vêm em Jesus o reflexo d’Aquela que o gerara, que o amamentara, que o educara.
Maria é a Mulher que educa e se torna bem-aventurada porque escuta a Palavra e a põe em prática.
Certa vez os que ouviam Jesus “anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 8, 20-21). Esta resposta de Jesus parece-nos estranha à partida, afinal é a Sua Mãe que lh’E quer falar, que O quer ver. Parece que Ela não dá grande importância à presença de Maria contudo, uma tal resposta parece ter por objectivo, não o desprezo para com a Mãe, mas exactamente mostrar que Ela sabe quem Ele é desde a Anunciação, Ele sabe que Ela sempre escutou a Palavra na obediência amorosa e gratuidade generosa. Jesus sabe que Maria O entenderá, Ela melhor que ninguém saberá ler nas entrelinhas o que Ele quer dizer.
Este texto leva-nos a ter um olhar diferente para com Maria, Ela é a FORMADORA DE JESUS EM NÓS.
Maria tem uma missão especial na nossa vida e que ganha um sentido especial na manhã de Pentecostes onde Ela se torna Mãe da Igreja, Mãe e educadora.
Em Maria inicia-se o germinar da vida divinizada na acção do Espírito Santo e na Encarnação. É fecundidade biológica e divina. Maria não é a Mãe possessiva que agarra os filhos para si mas aponta sempre para o Filho como em cana: Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!” (Jo 2, 5). O centro da atenção e da acção nunca é Ela mas sim o Filho, Ele é que é o sentido de toda a Sua entrega, do Seu SIM AO PAI.
Nos escritos de S. Francisco, Maria é também Aquela que aponta o Filho, aliás é de recordar que a devoção à Imaculada Conceição surge com os Franciscanos que tomam por ícone a Mulher descrita no Apocalipse (Ap 12, 1-6) que luta com o dragão para salvar o Filho. Ela é aqui Rainha e Senhora do Bem, Ela luta para que o mal não vença sobre o Bem dando à luz o Filho de Deus. Por isso Francisco a identifica sempre unida e inseparável ao Filho, Ela é o Templo da Santíssima Trindade. Um dos textos mais belos sobre Maria, em S. Francisco, é a Saudação à Bem-aventurada Virgem Maria (SVM). Ninguém como Ela para nos dizer quem é Deus. Ela foi discípula e Mãe, percebendo, por isso mesmo, muitas coisas e ao mesmo tempo não entendendo outras. Uma Mãe que faz aprendizagem com o Filho que d’Ela aprende também a crescer.
· SER MÃE: modo de ser onde cabe toda a existência, todo o destino histórico que viveu com o Filho da hora da Anunciação até à hora da Cruz. As mães tratam os filhos como se estes fossem sempre os seus filhinhos pequenos, como se fossem sempre os meninos que estão a crescer. A mãe educa o filho constantemente, não é só para o dar á luz, ela é em toda a vida e sempre se preocupa com o que queremos, o que somos e construímos. Maria Mãe, não deixou nunca o Seu Filho e também não nos deixará a nós porque o Seu olhar e coração maternal estão sempre atentos aos seus filhos amados.
ETAPAS DA VIDA DE MARIA:
· Hora terça (meio dia): Hora da anunciação, hora da Aliança de Deus com a Humanidade, hora da Graça de Deus que em maria nos quer abrir a porta da Salvação encerrada no pecado de Eva.
· Caná: Hora da transformação e ao mesmo tempo de provocação aos discípulos para acolherem o dom da Fé.
· Cruz: Hora da coragem e da ousadia. De pé Ela acolhe a vontade do Pai, entrega toda a Sua vida uma vez mais ao Pai e confia naquela Cruz, ousa desafiar tudo e todos mantendo-se ali, de pé, até que lhe entreguem o Seu Filho querido. É também a hora de mais um SIM, aceitar ser Mãe da Humanidade em João.
Ao chamar, Deus coloca o chamamento no limite da prova, tal como acontece com Maria. 4 PALAVRAS:
· Do Anjo enviado: “Alegra-te”. Palavra que perturba de imediato a serenidade de Maria que de imediato coloca questões. Deus, pela voz do Anjo, serena, pacifica, leva a confiar porque “a Deus nada é impossível”.
· “Não temas, darás à luz um Filho”. Palavra que assusta, Maria é Virgem, não conheceu homem, como pode dar á luz, e dar á luz Alguém tão grande que reinará para sempre?
(vejamos aqui um paralelo com a anunciação do nascimento de João Baptista a Zacarias)
· “Como será isso?”. Eis a primeira palavra de Maria no Evangelho. Maria não teme questionar quando está em causa a fidelidade a Deus, a realização do projecto de Deus para si e por si á humanidade. Como Ela também nós devemos questionar, fazer perguntas que levem a respostas pacificadoras e inspiradoras de confiança nos projectos que nos são apresentados, sobretudo os que se nos apresentam como sendo projectos de Deus.
· Deus dá sempre um sinal de que é Ele que falar e quer. Zacarias fica mudo e Maria vê na gravidez de Isabel a certeza de que “a Deus nada é impossível” e por isso responde “Eis a Serva do Senhor, faça-se", segunda palavra de Maria (Lc 1, 26-38). É um “Eis-me” firme, confiante, disponível, seguro porque Ela ouviu dizer que era obra do Espírito Santo e Ela sabia bem quem era o Espírito Santo, estava atenta, conhecia as Escrituras e Deus encontrou em Maria o coração, o ventre seguro.
· Maria foi visitar Isabel e saudou-a (terceira palavra de Maria). Não sabemos qual foi nem como foi, sabemos que Ela saudou, a palavra existiu porque Isabel exclama: “Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor” (Lc 1, 44-45). Imaginemos o que deve ter sido esta saudação… o olhar, a presença, o gesto, uma palavra tal que João exulta no seio de Isabel e esta alegra-se e professa a sua fé no Messias reconhecendo Maria como Mãe do seu Senhor.
· Somos impelidos de imediato à quarta palavra de Maria: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome…” (Lc 1, 46-56). Maria tem consciência que é Mulher humilde mas Bem-aventuras porque o que n’Ela se opera é obra do Altíssimo pelo Espírito Santo, daí o seu magnificat profundo e orante.
Depois desta reflexão poderíamos talvez perguntar a nós mesmo COMO ESTÁ O MEU MAGNIFICAT, como o rezo na minha vida, não o texto de Lucas mas o da nossa vida diária com tudo e todos os que dela fazem parte, o nosso magnificat pessoal de homens e mulheres chamados à missão como Maria foi chamada a uma Missão.
Maria foi uma Mulher de risco, muito provada e em cada momento da Sua vida dá-se um novo chamamento: desde a anunciação à formação e acompanhamento dos Apóstolos pós Calvário. Maria ficou com eles (Apóstolos) e certamente foi para eles a conselheira, a Mãe que acompanha e educa, a Mulhe que na sua experiência leva à intimidade com Deus, a Rainha que aponta a vitória do bem sobre o mal.
No Pentecostes Maria está presente e a Sua presença é sinal de esperança, é reconforto nas dúvidas, é segurança nos medos. Maria vivera a noite do frio da fuga para o Egipto, da incerteza do caminho mas da confiança em Deus. Maria é mulher silenciosa quando alguém, no Templo, lhe diz que Ela vai sofrer por causa d’Aquele Menino, uma espada de dor se fará sentir no Seu Coração de Mãe, viveu também a espera em Jerusalém e Caná da manifestação do Filho, espera confiante o novo amanhecer do terceiro dia pós calvário quando os discípulos fogem de medo.
Fracisco de Assis fala sempre de Maria em referência ao Filho, já o dissemos, não há Maria sem Jesus Cristo. A vida de Maria resume-se num “SIM” e nele está a plenitude dos tempos como meta a atingir na aceitação do sim de Maria em Cristo, sim que traz a renovação do mundo como que irrevogavelmente decretada.
Estar com Maria é escutar permanentemente o que Ela nos aponta a fazer face a tudo o que nos rodeia, como olhar o Filho, como escutar a palavra, como dizer o nosso sim ao projecto de Deus.
Com Maria somos convidados a transformar o nosso sim em outros permanentes sim. Ela é o modelo da humildade verdadeira e não a falsa humildade que vemos em tantos chamados que tentam “fugir com o rabo à seringa”, como acontece com a maior parte dos profetas… e connosco em tantas situações de chamamento.
Ela responde e confia que no Seu itinerário o Filho sempre lh’E dirá o que fazer e como fazer.
Também nós tivemos e temos anunciação. O peso do nosso sim entende-se de forma mais clara quando exista o medo, a dor, a dúvida, o impasse. Talvez só nos momentos dos limites, em que como Ela devemos dizer SIM, seja em que idade for, por vezes talvez até mesmo no fim da vida seja a hora de percebermos como a vida foi e deve ser num permanente amanhecer.
Assim, como Maria, seremos Bem-aventurados… viveremos o Sermão da montanha.
Seremos felizes se cultivarmos a mansidão e a humildade, se formos loucos pelo Reino, sem perdermos a ocasião de semear a paz, se mais que receber sonhamos dar, se o nosso coração e olhar estão limpos, se em lugar do poder (posse) buscamos a verdade no servir, se valorizamos mais a ternura que o ter, se partilhamos o que é nosso com os demais, se nos encontramos com Deus nos outros e se os outros são o lugar do encontro e nos oferecem um espaço novo.
Assim, teremos a certeza que em cada momento da nossa vida, Maria é a formadora de Jesus em nós.
Fonte: http://betus-pax2.blogspot.com/search?updated-max=2010-10-09T21%3A42%3A00%2B01%3A00&max-results=100

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