sábado, 29 de maio de 2010

A Economia do Pobrezinho de Assis

Pobrezinho de Assis
Por Frei Osvaldo Maffei, OFM
São Francisco de Assis nasceu e cresceu em uma família rica, que comerciava tecidos finos, que seu pai trazia da França. Durante sua mocidade preocupou-se em viver intensamente sua virilidade ‘jogralesca’. Suas noitadas, suas festas, seus amigos, tudo viveu Francisco com muita intensidade. Seu pai Pietro Bernardone o educou para uma economia do lucro, fundamentada numa administração para o cem por cento de lucro.

Após algumas experiências marcantes em sua vida começou a indagar-se, sobretudo em sua vida. E assim, o filho de Pietro Bernardone adentrou num processo de profunda reflexão sobre sua existência e, sobretudo aquilo que até então acreditava ser os seus fundamentais valores.

Francisco de Assis a tudo possuía: prestígio, riqueza e amigos, no entanto, faltava-lhe algo extremamente necessário. Na tentativa por preencher este vazio sentido por ele é que o motivou a buscar incessantemente por algo. Depois de longa penúria encontrou seu tesouro, e que para adquiri-lo vendeu tudo o que tinha para comprar o terreno onde está o seu tesouro.
“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem, ao descobrí-lo, esconde; então, movido de gozo, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo” (Mt 13, 44
O homem de Assis ao descobrir este tesouro lança-se em busca. O reino do céu, eis o grande tesouro encontrado e adquirido por Francisco. Ao que aqui chamaremos de Amor. Mas, o que seria este tesouro? Este Reino do Céu? Este Amor? E, eis que aos pouco o pobrezinho de Assis foi descobrindo que era o próprio Deus, este Deus que ora se mostra, ora se esconde.
Porém, Francisco não ficou só no primeiro contato para com Deus, para com o seu tesouro. Ele foi além. E indaga: “Senhor o que queres de mim?” juntamente a esta pergunta Francisco se coloca inteiramente nas mãos do amado e suavemente vai deparando-se que este Amor é o seu tudo. E durante toda a sua vida afirmou “meu Deus e meu Tudo”.
Se antes era o filho de um dos homens mais ricos de Assis, tornou-se, então, o homem mais rico ainda, mesmo não possuindo nada, inclusive suas roupas (de baixo). Pois, descobriu o grande tesouro e por este tesouro teceu um compromisso com o verdadeiro amor, o próprio Deus, o tesouro.
Então, por que Francisco foi e continua sendo este magno expoente para o mundo? Porventura seria pela razão de ter renunciado tudo por causa do Reino? Certamente que não, mas sim porque “verdadeiramente amou a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como Cristo nos amou” (ZAVALLONI, 1999) e isto com radicalidade. Aqui está a economia do pobrezinho de Assis.
A palavra Economia entre tantos significados que possui pode ser entendida como a administração da escassez. E, Francisco de Assis soube com maestria administrar suas mazelas para viver com radicalidade o mandamento do Amor; eis o segredo da economia do Poverello.
Francisco administra as suas misérias, suas mazelas humanas, e por isso é que ele apresenta um novo tipo de economia. A economia de sua vida; como? Atrás de seu segredo, o de amar o Amado, e antes mesmo de amar o Amado ele permite que o próprio Amado o ame. E só por isso é que o Poverello se torna capaz de opor-se aos erros do seu tempo e, superá-los na sua pessoa, na sua vida, nas suas ações.
Francisco “superou o ‘dinheirismo’, a idolatria da riqueza, a prepotência de quem possui, com a pobreza evangélica [...]” e que por isso “superou o consumismo daquele tempo, expresso no luxo e no refinamento de todas as formas do viver social, com a simplicidade mais radical, mas sem repudiar a civilidade, a cortesia e a gentileza para com todos”. (ZAVALLONI, 1999)
Francisco superou a discriminação social, que em sua época era extremamente visível, através das classes, aqueles que eram nobres, possuidores de bens, aqueles vassalos, serviçais. A todos o homem de Assis amava com o mesmo amor. Como pode ser percebido nas diversas hagiografias do santo.
O pobrezinho de Assis sentava-se a mesa com os nobres em seus magníficos palácios, mas também se sentava nas escadarias das igrejas junto com os mendigos. E tudo isto porque para Francisco a sua economia era fundamentada no Amor e não no lucro, ou no que os outros poderiam pensar dele. E que por isso a sua relação era sempre cordial para com todos sem distinção, uma vez que seu “olhar econômico” via a beleza de cada ser humano.
Francisco de Assis também superou “a violência, que serpeava na sociedade de então, vivendo como homem de paz, fazendo, desta maneira, resplandecer diante dos olhos o valor e a eficácia da paz de Cristo”. (ZAVALLONI, 1999)
Eis que o Pobrezinho de Assis com sua economia superou o “dinheirismo”, o “consumismo”, a “discriminação social” e a “violência”. Então, como nós hoje podemos colocar em nossa vida a vivência da Economia de São Francisco de Assis?
Primeiramente colocando no centro de nossas vidas o mandamento do amor. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como Cristo nos amou”. Em segundo lugar, deixar ser amado pelo próprio amor; permitindo que o Amor nos envolva em todos os aspectos da existência humana, ou seja, na vida pessoa, comunitária; nas relações consigo, com o próximo; na dimensão financeira, sexual e emocional. Ao colocarmos no centro de nossas vidas o Amor, logo deixamos que este amor possa agir em nossa existência, consequentemente predispomo-nos a sair de nós mesmo e a perceber nos outros as qualidades, tornando-nos abertos para sermos cada vez mais cordiais para com quem quer que seja.
Na economia de Francisco Deus não é posto de lado, como fez o homem moderno, mas Deus ocupa a centralidade da vida.
Na economia de Francisco o Amor tudo passa pelo Amor, que é o Amado, ou seja, Deus.
Na economia de Francisco a vida ocupa grande relevância.
No entanto, não é o que se pode presenciar na atualidade, uma vez que o relevante é o ter, esquecendo-se de que este ter perpassa a dimensão do modo como ter e possuir.
Sendo assim, o que nos resta por fazer enquanto cristãos e franciscanos “é entender que a grandeza do homem se funda precisamente em Deus e na relação com ele”. (ZAVALLONI, 1999)
Lembre-se que a sua economia pode ser fundamentada no valor do Amor e não no valor monetário, como fez o Pobrezinho de Assis.
Referência:
ZAVALLONI, R. Pedagogia Franciscana. Petrópolis: Vozes, 1999.

Extraido de: http://maffeiofm.blogspot.com
Acessado em: 28/05/10

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