sexta-feira, 4 de março de 2011

A FERIDA QUE CURA - 1ª sexta-feira do mês -

sagradocoracaoBendito sejas, meu  Senhor, pela água desta cruz,
que brotou juntamente com o sangue do Cristo crucificado.
Teu Espírito clama em mim, ó Deus humilhado:
“Eu sou a Ferida que cura o homem que crê!”
Michel  Hubaut, OFM

1. Não nos cansamos de contemplar o mistério de Cristo. Ele, feito homem simples e andarilho,  perambulou pelos caminhos poeirentos da  Palestina, encontrou pessoas, fez convites e caminhou com a testa erguida na direção de Jerusalém, essa cidade dourada que tinha a triste fama de matar profetas.  Nossos olhos e nosso interior se  detêm de modo especial nos últimos momentos da vida do  Mestre.  Contemplando à distância, ajudados pelo Místico de Patmos, revestimo-nos, de modo especial no tempo da quaresma e da semana santa,  dessa dimensão contemplativa que admira os  extremos de amor do Senhor.  Sim, na realidade aqueles momentos passados entre o céu e a terra, em que Jesus contempla  do “alto”  as coisas de “baixo”  ficam gravados indelevelmente nas dobras do coração do discípulo.

2. Um pouco antes de inclinar a cabeça, quando ainda tudo girava em seu interior, o Filho, chegou ao cume da obediência. E, perscrutando os desejos do Pai, se amor-oblação para que o mundo pudesse viver.  São Clemente I, assim se exprimiu: “Na caridade  Deus nos assumiu para si. Pela caridade que tem para conosco, nosso Senhor Jesus  Cristo, obediente à vontade divina, por nós entregou o seu sangue e sua carne por nossa carne e a sua alma, por nossa alma”  (L.Horas III, p. 74). Esses últimos momentos da vida de Jesus são puro dom.  Como puro dom é aquele momento, em que na mais modesta capela, um sacerdote, emprestando sua voz a Jesus, diz:  “Isto é o meu corpo que é dado por vos1”.

3. Michel  Hubaut, numa bela oração  de louvor à água, extasia-se diante da cena do Gólgota.  Contempla a Água da cruz que corre paralela ao Sangue. Água para os sedentos, água para os que desejam purificar-se, água que brota  da fonte de um novo paraíso.  Michel Hubaut, contemplando o Cristo nesse momento, o designa de  Deus humilhado.  Por isso, os discípulos de Cristo ficam  extasiados diante dessa loucura: um Deus que se humilha. E, segundo a expressão poética do frade  Cristo se define:  “Eu sou a Ferida que cura o homem que crê!”.  Em muitas ocasiões Jesus vai se auto-definindo. Nessa página  ele se define como sendo ferida, chaga, janela.  Tudo já estava consumado. Nada mais a fazer.  Nada mais a dizer. Um homem que se tornara um verme, sem forças, cambaleante quando ficava em pé antes da crucificação,  agora sem energia alguma. Realizava-se naquele momento as palavras de Isaías:  “Era desprezado, era o refugo da humanidade, o homem das dores e habituado  à enfermidade; era como pessoa de quem se desvia o rosto, tão desprezível que não fizemos caso dele. No entanto, foi ele que carregou as nossas enfermidades e tomou sobre si as nossas dores.  E nós o considerávamos, como alguém castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi traspassado por causa de nossas rebeldias, esmagado por  causa de nossos crimes; caiu sobre ele o castigo que nos salva, e suas feridas nos curaram”  (Is 53, 3-5). Ele reúne ainda o que tem de melhor e de mais expressivo no coração.  Trata-se do momento de terminar uma trajetória, momento aparentemente de fracasso, de abandono de uns e de outros, mas suprema revelação do amor que rasga caminhos de salvação.  Trata-se do momento de colocar a assinatura na obra de sua vida: Este que morreu de amor e que uma ferida que cura os que crêem.

4. Os que refletem sobre esse amor que vai até o fim procuram, como pede  Paulo aos cristãos de Filipos ter os mesmo sentimentos de Cristo Jesus: “Ele, subsistindo na condição de Deus, não se apegou à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se tomando a condição de escravo” (Fl 2, 5 ss).

5. Compreendemos toda a riqueza que aparece no verso de Michel Hubaut: o Deus humilhado, o Deus chagado, com uma ferida que cura os que crêm.  E os devotos do Coração de Jesus sabem perfeitamente que, ao longo de suas vidas, nada mais têm a fazer do que contemplar a ferida do amor de Deus que não fecha e cuidar das feridas dos irmãos da face da terra.

 

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/v3/almir/primeirasexta/

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