terça-feira, 15 de junho de 2010

A REGRA DA ORDEM FRANCISCANA SECULAR: ESTRADA DE CONVERSÃO E CAMINHO DE SANTIDADE

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. Nós, cristãos leigos, religiosos e sacerdotes, somos chamados à santidade de vida.  Não somos convocados a sermos apenas “pessoas religiosas”, “corretas”, pessoas mais ou menos corretamente religiosas.  A Constituição  Dogmática do Concílio Lumen Gentium afirma: “Assim, é evidente que todos os fieis cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade.
Por esta santidade se promove também na sociedade terrestre um modo mais humano de viver. Com o fim de conseguir esta perfeição façam os fiéis uso   das forças recebidas segundo a medida da doação de Cristo,  para que, seguindo seus vestígios e feitos conformes à sua imagem, cumprindo em tudo a vontade do Pai, se dediquem inteiramente à glória de Deus e ao serviço do próximo” (n. 101). O Documento lembra que a santidade consiste na glória do Pai e no amor do próximo. Não podemos fazer por menos. Os que pretendem ingressar na vida franciscana secular querem ser santos, à maneira evangélica de Francisco.
2. João Paulo II, na Exortação Apostólica  sobre a Vocação e Missão dos Leigos:  “Hoje, como nunca, urge que todos os cristãos retomem o caminho da renovação evangélica, acolhendo com generosidade o convite apostólico de ser santo em todas a ações...Todos na Igreja, precisamente porque são seus membros, recebem, e por conseguinte partilham a comum vocação à santidade” (n.16).  O assunto está claro. Somos convidados à santidade.
3. Pio XII havia definido a Ordem Franciscana Secular como “escola de perfeição, de  genuíno espírito franciscano, de ações ardorosas e imediatas.  Mais ainda: a Ordem(terceira) quer pessoas que, no seu estado, busquem a perfeição”.  Ora, a Regra da OFS, diz claramente: nas fraternidades  “os irmãos e irmãs, impulsionados pelo Espírito e atingir a perfeição da caridade, no próprio estado secular, são empenhados pela Profissão a viver o Evangelho à maneira de São Francisco mediante esta Regra aprovada pela Igreja” (n.5).
4. Nunca é demais afirmar que os franciscanos seculares podem contar com um texto espiritual inspiracional cheio de vigor para orientar sua vida na Igreja e no mundo. Trata-se da Regra aprovada pelo Papa  Paulo VI a 24 de junho de 1978 e professada pelos seculares franciscanos.  A elaboração da Regra  da OFS foi um retorno às fontes franciscanas primitivas.  O Prólogo da atual Regra é constituído pela Exortação de São Francisco aos irmãos e irmãs da penitência,  título dado ao texto por K. Esser.  Há dois caminhos básicos na vida: o caminho do bem  e   o caminho do mal, como já aparece na Didaqué. Há o caminho dos que fazem penitência e daqueles não fazem. Os que fazem penitência vivem.  Morrem os que não fazem. Os franciscanos eram conhecidos primitivamente como os penitentes de Assis.  Percorrendo o caminho da penitência chega-se à santidade.  Entramos para a OFS porque queremos um espaço que nos ajude na conversão.
5. A Regra se apresenta como uma proposta vocacional na qual Cristo é o centro do projeto de vida.  De maneira simples, mas profunda, lemos: “A Regra e a vida dos franciscanos seculares é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o exemplo de São Francisco de Assis que fez de Cristo o inspirador e o centro de sua vida com Deus e com os homens” ( n.4).  Francisco nada mais queria saber a não ser de Cristo. Um Documento antigo  dos franciscanos seculares franceses, anterior à Regra, dizia: Francisco queria ... “o Cristo optando pela pobreza e pela humildade para ser assim homem entre os homens; o Cristo amando os homens todos os dias chegando ao extremo de dar a vida por eles no alto da cruz;  o Cristo realizando a vontade do Pai e cantando sua glória; o Cristo ressuscitando para  a vida eterna e assim passando desta vida ao Pai... Cada dia Francisco contempla os mistérios da vida de Cristo e descobre assim seu caminho. Quer seguir os traços de Cristo. Deixa-se transformar por ele. Esta é, pois, sua vida”.
6. Há aqueles que fazem penitência e os que não fazem... “Como irmãos e irmãs da penitência, em virtude de sua vocação, impulsionados pela dinâmica do Evangelho (os franciscanos seculares) conformem seu modo de pensar e de agir ao de Cristo, mediante uma radical transformação interior que o próprio Evangelho designa pelo nome de “conversão”, a qual, devido à fragilidade humana, deve ser realizada todos os dias” (Regra n. 7).
7. Converter-se é passar a viver a vida nova do Evangelho. Essa conversão se dá no cotidiano da existência. Os franciscanos seculares vivem no mundo e é nesse mundo que se convertem.  Voltando a citar o Documento francês: “ Todo homem está num estado de vida: casamento, celibato ou viuvez. Todo homem exerce uma profissão, reserva um tempo para o lazer, faz parte de grupamentos da sociedade. Todo homem está inserido num tecido de relacionamentos familiares, amicais, sociais, profissionais, culturais, religiosos,  em instituições econômicas, políticas, nacionais e internacionais. É chamado a assumir responsabilidades nestes diversos domínios ou campos. É precisamente esta realidade terrestre que o franciscano secular é chamado viver e a transformar segundo o Evangelho”.  Assim, ele transforma o mundo e caminha rumo à santidade no coração das realidades.
8. Os franciscanos seculares estão bem conscientes de tudo o que  acaba de ser lembrado. Sabem que para Francisco o começar a fazer penitência tem um dado preciso. Ele começou a se transformar quando se aproximou dos leprosos. Em nossos dias a conversão acontece quando se presta uma atenção toda especial  às relações humanas e sobretudo com os mais pobres.  Aprendemos a admirar o trabalho da Dra. Zilda Arns Neuman, criadora da pastoral da criança, que atinge milhares e milhares de mulheres mães e de crianças.  Amando os pobres e também aqueles que nos rejeitam é o Cristo que encontramos e vemos se operar nossa conversão.  Como a de Francisco, nossa conversão passa pelo amor dos homens.
9. Não podemos ser cristãos medíocres.  A Regra da OFS é um convite à santidade de vida. As fraternidades seculares são lugares de busca da perfeição evangélica.  Os retiros anuais ou mais freqüentes, os exames de consciência, as visitas fraterno-pastorais, a recepção regular do sacramento da confissão, a disponibilidade, mesmo com sacrifício para assumir serviços na Igreja e na Ordem são sinais de que estamos num caminho bom.
10. A intensa vida eucarística dos franciscanos seculares será de fundamental importância. Ali morremos a nós mesmos, com Cristo, e renascemos.  A Eucaristia é lugar de santidade e de santificação.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III

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