quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Vocação e a formação franciscana

Por frei Mauro Alves da Rosa

iFranciscanisnoA formação franciscana é baseada no encontro pessoal com o Senhor e começa com o chamado de Deus e a decisão de responder a este chamado nos passos de São Francisco de Assis. Caminhar sobre as pegadas do Cristo, pobre e crucificado, como discípulo sob a ação do Espírito Santo.

A vocação franciscana é um processo contínuo, de crescimento e de conversão que compromete a vida de qualquer pessoa que se sinta chamada a fazer a experiência de São Francisco de Assis. Nesse processo, o vocacionado deverá crescer nas dimensões humana, cristã e franciscana. Quem se sente chamado a viver o franciscanismo deve desenvolver as dimensões humanas, cristãs e franciscanas, comprometendo-se com o espírito de oração, a devoção e a vivência em fraternidade e minoridade.

O seguimento a Jesus Cristo, segundo a forma de vida de São Francisco, leva o franciscano ao compromisso com a Igreja e a colocar-se a serviço dos homens de nosso tempo como mensageiro da Paz e do Bem, estando junto aos pobres como o próprio Santo escreve em seu testamento:

1 O Senhor assim deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência: porque, como estava em pecados, parecia-me por demais amargo ver os leprosos. 2 E o próprio Senhor me levou para o meio deles, e fiz misericórdia com eles. 3 E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo; e depois parei um pouco e saí do século.[1]

O vocacionado franciscano deve ter em mente que, para seguir Jesus Cristo, deverá se livrar de todas as amarras que o prendem, colocando-se à disposição de tomar a cruz e seguir o caminho. Não é um pedido de Francisco, mas de Jesus: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo e tome a sua cruz e me siga" (Mt 16,24). Assim como o próprio Jesus Cristo diz no Evangelho e depois Francisco assume para si e para seus frades: "Se queres ser perfeito, vai e vende tudo (cfr. Lc 18,22) que tens, e dá aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me" (Mt 19,21)”[2].

O Franciscano, a exemplo de Francisco, propõe um novo tipo de ser humano, e este novo homem nasce a partir da experiência do vocacionado com Deus e com as criaturas, pois “Francisco foi e propôs um novo tipo de homem a partir da sua original experiência de Deus e do modo original de tratar com todos os seres. Francisco foi um homem estruturalmente "simpático" a Deus, a todos os outros homens e a todas as criaturas[3]”. O pobre de Assis nos deu o exemplo que cativou e continua cativando muitos jovens.

1. O exemplo de São Francisco de Assis

O seguimento de Jesus por Francisco de Assis esteve marcado pelo encontro com o crucificado em São Damião, pelo encontro com o leproso e na escuta do Evangelho. Podemos afirmar que essas três passagens formam o itinerário vocacional de Francisco, fazendo-o crescer em seu amor para com Jesus Cristo pobre e crucificado.

A forte experiência de Deus como Pai e Sumo Bem na vida de Francisco o leva a uma atitude de agradecimento e louvor ao Criador por suas criaturas: “1Vós sois santo, Senhor Deus único, que fazeis maravilhas (Sl 74,15). 2Vós sois forte, vós sois grande (cf. Sl 85, l0), vós sois altíssimo, vós sois rei onipotente, vós sois Pai Santo (Jo 17, 11)...[4]”. Francisco se sente ligado, “irmanado” com todos os seres humanos e com todas as criaturas: “3 Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas (cfr. Tb 8,7),...[5]”. Francisco passa a denominar todas as criaturas como irmãos e irmãs porque todos têm o mesmo criador: Deus, o Sumo Bem.

O dom de Francisco foi começar a fazer penitência, pois foi o próprio Senhor quem o levou para o meio dos leprosos e, o que parecia amargo, torna Francisco um homem doce. O jovem Francisco abandona a visão de poder, do ter, do prestigio, uma vida centrada em si mesmo para estar livre em conformidade com Cristo.

O itinerário de Francisco de Assis é um exemplo para os vocacionados à vida franciscana

2. Formação Franciscana

A formação é graça que vem do alto, Dom de Deus que é Pai, que é educador e formador. É um Deus formador que procura formar em nós a Imagem de Jesus Cristo[7]. O protagonista da formação franciscana é o Espírito Santo; o formando internaliza os valores da vida franciscana. Valores humanos e da vida cristã. A formação é a preparação total de si mesmo a Deus no seguimento de Jesus Cristo, a serviço da Missão[8].

O Papa João Paulo II alerta, no Documento Vita Consecrata, que: “a formação deverá atingir em profundidade a própria pessoa”[9], ou seja, a formação deve dar condições ao formando a internalizar os valores humanos, cristãos e da vida consagrada de tal modo que suas ações revelem o Amor de Deus. “Uma vez que a vida consagrada consiste na configuração com o Senhor Jesus e com sua oblação total[10]”, a formação para a vida franciscana ou para outra espiritualidade deve orientar para isso.

A formação franciscana é um processo dinâmico de crescimento em que o irmão abre o coração ao Evangelho no dia a dia, convertendo-se diariamente para Deus, uma conversão diária no seguimento de Jesus. Cada dia vivendo com mais fidelidade ao espírito de São Francisco. O processo formativo franciscano deve estar atento e valorizar os dons de cada irmão. Dons especiais que ajudem no seu crescimento pessoal e na busca da vontade de Deus.

O lugar da formação Francisca se dá na fraternidade. Cada irmão é formador, cada irmão deve estar consciente que ele, como irmão mais velho, deve ajudar o irmão mais novo a caminhar com segurança o caminho que decidiu seguir. A fraternidade franciscana está inserida no mundo real. Assim sendo, a formação se dá na fraternidade e no real, onde o formando e os irmãos experimentam a graça de Deus, renovam no coração e na mente que o Senhor os consagra e os joga no mundo para nele serem testemunhas de Jesus Cristo, pobre e crucificado.

O tempo de formação, tanto inicial como pernamente, definitivamente devem estar atentos ao crescimento humano, cristão e franciscano. A formação deve nos mostrar que nós, franciscanos, entramos na dinâmica de Francisco de Assis, ou seja, da “vida em penitência”, de nos alegrarmos de estar com a gente simples e desprezível, com os fracos, com os doentes e os com os leprosos.


[1] Testamento de São Francisco de Assis.

[2] Regra Não Bulada número 1,2.

[3] Frei Miguel Negreiros, ofmcap; in Cadernos de Espiritualidade Franciscana, nº 2, pp. 38-44.

[4] São Francisco de Assis: Louvores de Deus Altíssimo; 1, 2.

[5] São Francisco de Assis: Cântico do Irmão Sol. 3.

[7] CENCINI, A. O Respiro da Vida: a Graça da Formação. São Paulo: Paulinas, 2004. P. 16

[8] Vita Consecrata, número 65.

[9] Ibidem, 65.

[10] Ibidem, 65.

 

Fonte: http://kairoscotidianofranciscanisno.blogspot.com.br/

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