sábado, 12 de dezembro de 2009

Deixar-se corrigir pelos que nos ama

saint-francis-of-assisi



"Bem-aventurado o servo que, repreendido, benignamente aquiesce, com modéstia se submete, humildemente se confessa e de boa vontade faz reparação”
(Admoestação XXII, 2).


1. Os humildes seguidores de Cristo deixam-se corrigir pelos que os amam, bem como por aqueles que não os amam tanto. Esta é uma das grandes características de Francisco. Estamos diante da postura do que é humilde. Os franciscanos desejam viver santamente. Para isso fazem profissão de busca da santidade. Ora, os irmãos de todos os dias e aqueles que Deus nos coloca como nossos orientadores nos ajudam a corrigir a rota. Fazem a caridade de não deixar que” venhamos a nos extraviar, literalmente, andar fora do caminho. Estamos diante do tema delicado da correção fraterna. Felizes aqueles que, ao longo de sua vida, tiveram verdadeiros anjos que lhes deram o presente da atenção carinhosa no sentido de corrigirem a rota da vida. Uns e outros têm fortes chances de glória futura.
2. A correção fraterna é manifestação de bem-querer. O amor entre os irmãos se concretiza de muitos modos: presença física, oração, ajuda nos momentos de necessidade, respeito por sua opinião, paciência com o outro e sua promoção. Quando numa comunidade desaparece o interesse de uns pelos outros, quando se instaura o indiferentismo, o salve-se-quem-puder, a vida se torna difícil e as pessoas não atingem sua meta de santidade.
3. Os pais, os professores, cada um em seu âmbito, alertarão filhos e alunos no sentido de que não deixem de ser profundamente honestos, tenham caráter, respeitem o que é dos outros, cultivem a coerência e sejam atentos à voz da consciência. Assim agindo, os “superiores” realizam sua missão de educadores: alertam e, quando necessário, repreendem. Se não corrigirem estarão impedindo que filhos e alunos sejam pessoas de valor. O mesmo se fale entre nós: o ministro ajuda o irmão a se corrigir e os irmãos se entre ajudam para que nenhum venha a se perder. Temas para a correção fraterna: negligência séria na vida de oração, falta de afeto para com a fraternidade, posturas de negligência, falta de generosidade, disseminação da discórdia. Isto e muito mais será objeto de exortação e correção.
4. Os responsáveis pelo vigor da vida cristã numa comunidade paroquial, no seio de uma fraternidade de vida consagrada ou em grupamentos de busca da perfeição evangélica no meio do mundo servir-se-ão de diferentes meios: a palavra de exortação na reunião ou no encontro do grupo, proposição de um pôr em comum ou correção fraterna num momento de revisão de vida ou num encontro de oração da fraternidade.
5. Os responsáveis por levar adiante a vitalidade de um grupo não poderão se omitir. Haverão de fazê-lo com firmeza, mas com delicadeza. Nunca o pecado do irmão pode ser anunciado aos quatro ventos. Este merece respeito à boa fama. A intenção do “superior” será a da salvação da alma do irmão. Seria lamentável se um irmão viesse a se perder por falta de energia do ministro. Normalmente correções de rota mais delicadas serão feitas em sigilo, sem que outras pessoas fiquem sabendo.
6. Há a correção de irmão para irmão, de dois em dois, ou num pequeno grupo, que só poderá ser feita quando se tiver certeza da falta. Em todos esses casos será fundamental a postura de humildade do irmão em receber a correção e de quem a faz. O texto de Francisco fala: Bem-aventurado o servo que suporta correção, acusação e repreensão com paciência. A postura de humildade, mesmo quando o irmão é injustiçado com a correção, é típica do franciscano.
O irmão acusado tem todo o direito de defesa. Jesus mesmo interpelou seus algozes: “Por que me bates?” O irmão que tende à santidade, no entanto, mesmo tendo o direito de exigir a verdade, lá no fundo do coração, aceita este momento de humilhação, unindo-se a Cristo Jesus. Francisco continua sua exortação: “Bem aventurado o servo que não é rápido para se escusar e humildemente suporta a vergonha e repreensão por causa do pecado, embora não tenha cometido culpa”.
7. Coloquemos em destaque os pontos que Francisco enfatiza: bem-aventurado o irmão que acolhe a repreensão com benignidade; aquele que com modéstia se submete e que humildemente reconhece seu pecado mesmo corando de vergonha; aquele que muda de vida e faz reparação.
8. Na realidade, a correção fraterna é uma das grandes graças de nossa vida. Felizes aqueles que souberam, ao longo do tempo da vida, reorientar seu comportamento e assim se tenham aproximado de Cristo Jesus, em sua humildade e submissão.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

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