Por Frei Carlos Guimarães, OFMConv.
Quando se fala de Carisma, antes de qualquer outra coisa, deve-se necessariamente reportar a São Paulo (1Cor 12-13), a partir do qual se pode estabelecer que os carismas são dons do Espírito Santo conferidos aos eleitos, ou seja, aos batizados, para que a Igreja, ao longo dos tempos, possa eficazmente realizar a sua finalidade principal: levar os homens à salvação e ser uma presença clara e atuante de Jesus Cristo no mundo.
E o valor destes dons é sempre o bem comunitário posto a serviço de todo o Corpo Místico, de forma que cada um de seus membros recebe, além da justificação batismal, uma graça destinada a torná-lo co-responsável por sua atividade pessoal, pela salvação de todo o corpo: “carismas diferentes, de acordo com a graça que Deus concedeu a cada um... e conforme o impulso da fé” (Rm 12, 6).
Assim sendo, cada batizado possui a capacidade para ser transformado em instrumento do e pelo Espírito Santo, para cumprir uma tarefa específica na manifestação do Reino de Deus e edificação/ atualização da vida de sua Igreja, em tempos determinados, atendendo a necessidades determinadas do povo de Deus.
Conformando-se às disposições humanas de cada batizado, o Espírito Santo orienta a vocação geral de todo cristão para a santidade e para o apostolado, para este ou aquele serviço; e isto se dá no momento propício – geralmente marcado por uma mudança radical e dolorosa de vida: a conversão – em que o cristão se abre plenamente à graça do mesmo Espírito que o conduz a uma missão importante e única a favor de toda Igreja.
Em certos momentos da história da humanidade, o Espírito suscita pessoas específicas para, por meio de uma profunda experiência com Deus, trazer vida nova para a sua Igreja e para o mundo, relembrando-os de algo esquecido ou chamando sua atenção para um aspecto novo ou negligenciado de sua caminhada.
A partir deste ponto, o convertido realiza uma singular experiência evangélica que o faz abandonar tudo que antes lhe era agradável, para se conformar com os apelos que o Espírito faz em seu interior. E isto ocorre com tal intensidade que seu novo modo de viver e agir e seu exemplo vibram como uma nova proclamação do Evangelho, uma nova visão da Palavra de Deus, que transcende os limites pessoais e afetam as pessoas a sua volta, convocando-as a fazer a mesma experiência.
O convertido consegue fazer com que o grupo participe de seu carisma pessoal que, desde este momento, passou a ser meta e orientação para o próprio grupo. O convertido transforma-se em referencial para toda uma geração de seguidores, converte-se em fundador de toda uma maneira própria de ver o homem e o mundo.
É nesta dinâmica que se dá e que se deve procurar apreender a experiência pessoal de São Francisco de Assis, que culmina na gênese e na construção do Carisma Franciscano.
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