segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Como a si mesmo

comoasimesmo

Por Frei Cristiano Freitas, OFMConv.

Para quem já teve a oportunidade de viajar de avião, observou a série de recomendações feitas dentro da aeronave antes da decolagem por motivo de segurança, principalmente em caso de emergência. Uma delas me chama a atenção pela ordem com a qual deve ser realizado o procedimento. O comissário de bordo alerta mais ou menos o seguinte: “em caso de despressurização (quando o avião vai ficando rapidamente com menos ar, compatível com as condições apresentadas em terra), máscaras de oxigênio cairão à sua frente. Estique-a para liberar o ar e coloque-a sobre sua boca e nariz e respire normalmente. Se tiver criança ou idoso ao seu lado faça a operação PRIMEIRO em você, depois em quem necessitar”.

Levando em consideração todo um sistema social hedonista que vivemos nada mais normal que incentivar essa prática, onde cuido do que é meu primeiro e depois do outro. Mas acredito fielmente que esta atitude é também evangélica! Sim. Apesar de a Palavra nos mandar cuidar do outro, perdoar, dar a outra face e amar sem medidas, o próprio mandamento nos ensina que devemos “amar o próximo como a si mesmo”.

Sem cair num narcisismo doentio onde o centro é o nosso único ego, é bem verdade que se alguém não sabe cuidar e amar a si mesmo, não saberá amar o outro. Lembrando que a medida deve ser a mesma para não gerar problemas pessoais de tristes consequências, ou para não estragar relações que poderiam ser enriquecedoras para uma maturidade da pessoa.

Só se pode sair de si, aquele que realmente está dentro de si, com toda propriedade. Quem se ama o suficientemente e tem consciência do que é. Caso contrário, correrá o risco de sempre oferecer ao outro o que não é seu, e o pior, oferecer o resto de si.

Aprenda a oxigenar a si mesmo primeiro com carinho, com abundância e com qualidade. Com pulmões cheios e a mente em pleno vigor serás capas de salvar quem necessita. Se observares as ‘cadeiras’ ao seu lado perceberás que tem muitos necessitados de vida. Muitos que sofrem de falta de ar, pois as turbulências da vida são frequentes e não são capazes de enxergar as máscaras que estão diante de si. Os desesperados tornam-se cegos e ainda muitas vezes não facilitam seu resgate. Coloque a máscara primeiro em ti para que tenha a capacidade de ser esperança para outros.

O primeiro gesto de ‘heroísmo’ que se pode realizar é amar a si mesmo. É salvar seu coração das armadilhas do mundo e reconhecer que em tudo necessitamos de Deus. “Do que vale o homem ganhar o mundo inteiro e perder sua a vida eterna?” (Mt 16, 26). Permita que o Senhor possa te amar e vivendo esse puro amor serás capaz de ‘salvar’ o próximo.

Uma das grandes faltas cometida pelo Homem de Deus, é querer justamente sair colocando as máscaras de oxigênio nos outros e esquecer que já não tem mais ar. Até mesmo os mártires, aqueles que deram a vida por Cristo, pela Igreja e pelos irmãos souberam preencher suas vidas com o sopro do Espírito Santo e assim, com equidade, deram aos outros, o que tinham de melhor.

As recomendações que recebemos no dia a dia são de buscar uma experiência viva com o Senhor. Sempre preencher seu pulmão como o mais puro ar e então será capaz de preencher o outro.

São Paulo nos mostra muito bem essa experiência, quando pede ao carcereiro que o vigiava na prisão, mas que resolveu mudar de vida. Como um grande ‘comissário de bordo’ o santo recomenda: “Crê no Senhor Jesus e será salvo tu e tua família” (At 16, 31). O primeiro passo, portanto, para salvar os que estão ao nosso redor, é tendo uma experiência de fé em Jesus Cristo. Depois os que estão contigo respirarão melhor e poderão contemplar a salvação prometida por Deus. T

 

Fonte: Reflexões Franciscanas

Nenhum comentário:

Postar um comentário