Frei Regis Daher (*)
Em 2006, Frei José Rodríguez Carbalho, no seu relatório ao Capítulo Geral da Ordem, o Ministro ofereceu algumas intuições que valem serem lembradas por ocasião da celebração de nosso Pai São Francisco. Não há muito que dizer de “novo” sobre Francisco de Assis. Paradoxalmente, o excesso de palavras parece afastá-lo ainda mais, como se ele se escondesse do nosso esforço racional de se apossar de sua pessoa ao tentar reduzi-lo à nossa medida.
‘O Evangelho continua a ser Evangelho, quando cada um de nós, mesmo levando em conta a própria pobreza, tem a coragem de vivê-lo. ’ Para uma boa parcela dos cristãos, o fermento da boa nova perdeu sua força de transformação porque se tornou mais uma entre tantas outras novidades. Para Francisco, o Evangelho, acolhido em seu imediatismo, frescor e radicalidade, tornou-se a Notícia por excelência porque acolhida, ‘bela como a graça e ardente como o amor, que transforma quem a recebe com coração de criança’ (Mt 11,25).
Talvez o segredo de Francisco seja exatamente esse: o tornar-se criança diante do Evangelho, ‘com a surpresa de quem, pela primeira vez, descobre-o em seu frescor, sem domesticar suas exigências radicais. ’
O encantamento que Francisco continua a despertar até os dias de hoje vem exatamente de sua atitude frente ao Evangelho: livre e indefeso. ‘Somos chamados a deixar-nos iluminar e questionar por ele, para que nossa vida recupere o sabor e a juventude das origens; para que nossa vida escandalize e questione, como escandalizava e questionava a vida de Francisco e de seus primeiros companheiros. Somos chamados a descobrir o Evangelho como livro de vida – sem reduzi-lo a ideologia, mais uma entre muitas – a assumi-lo como livro de leitura frequente, que ilumine nossas opções e possa justificá-las.’
O especialista franciscano Elói Leclerc, no seu célebre livro “Retorno ao Evangelho”, revela que o segredo de Francisco está justamente na descoberta de Cristo no Evangelho, sua força inspiradora e iluminadora. Portanto, ‘voltar ao Evangelho é voltar para Cristo, o único que pode justificar nossa vida. Voltar ao Evangelho é reviver a graça das origens. Voltar ao Evangelho é recobrar a poesia, a beleza e o encanto de nossa vida. Voltemos ao Evangelho e seremos resgatados de nossas misérias e de nossas escravidões, de nossos medos e de nossas tristezas, e resgataremos os homens nossos irmãos de suas misérias e escravidões, de seus medos e tristezas. Voltemos ao Evangelho e respiraremos ar puro; nossas propostas serão novas; a coragem, a inteligência, a generosidade, a fidelidade de muitos irmãos nossos, gastos sem reserva e sem restituição, darão fruto e fruto abundante. ’
Passados 800 anos do início da aventura evangélica de Francisco de Assis, sua chama inspiradora continua viva, provocando o cristianismo e, talvez a humanidade. Deixemos que o Evangelho seja Evangelho! Para tanto, retiremos as amarras do medo, da acomodação, da satisfação medíocre de uma vida míope! Com e como Francisco, libertemos o Evangelho e o Evangelho nos libertará.
Frei Regis Daher, OFM, é paulista de Jacareí.
Formado em Filosofia e Teologia, professou na Ordem Franciscana em 1981 como irmão leigo.
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