Por Frei Almir R. Guimarães, OFM
Quase na metade do mês de setembro vivemos a alegria da grande festa da Exaltação da cruz do Senhor. A antífona de entrada da Missa, tirada de Romanos, exprime bem o sentido profundo desta comemoração: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está a nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (Fl 6,14).
Cruz, instrumento de suplício: uma madeira mais longa na vertical e a outra, mais estreita, na horizontal. Castigo para os condenados! Antes de ser cruz a árvore frondosa era balançada pelo vento e seu verdor encantava os olhos dos passantes. As árvores dos bosques e das florestas é que oferecem a mataria prima da cruz. Um lenhador derrubou uma ou duas árvores, um entendido em carpintaria fez o encaixe…
Com o desenrolar-se dos fatos da vida de Jesus as autoridades de Jerusalém chegaram ao consenso de que esse Jesus não podia continuar a viver. Deveria ser sacrificado. Os acontecimentos se precipitam. Ele carrega a cruz, é nela pregado e levantado da terra. Ele é tido como alguém que pratica o mal, um malfeitor. Não convinha que continuasse a viver. Jesus experimenta toda sorte de sentimentos na precipitação dos acontecimentos. Vive dura solidão. Vê-se despojado de suas vestes. Não tem a quem apelar. O Pai, que a tudo assiste parece mudo e indiferente. Aquele que havia aprendido a trabalhar com madeira está deitado e preso ao madeiro.
Desde a nossa infância fomos aprendendo que não se pode separar Cristo da cruz. Ele, contorcendo-se de dor, resume no gesto de sua morte, toda a sua vida: uma existência dada. Dá sentido ao fato de morrer. Morte na filial obediência e no intuito de dar vida para os outros. Literalmente, ali, na cruz, ele é o grão de trigo que vai ser jogado à terra.
Depois da cruz de Cristo muitos outros crucificados foram assumindo suas cruzes, na esteira do patíbulo da sexta-feira das trevas e da luz. Cristo continua morrendo nos inocentes condenados, nas mulheres abandonas pelos maridos, nas crianças sem pai e sem mãe que vagueiam pelos campos de refugiados de países da África, em todos esses que são assaltados e espancados no santuário de suas casas, nos que dão a vida pelos outros.
Assim, exaltamos a cruz do Senhor e respeitamos todos os que na esteira do Crucificado do Gólgota estão unidos a Ele.
Terminamos esta reflexão com parte do Prefácio da Missa que fala de vitória da cruz: “Puseste no lenho da cruz a salvação da humanidade para que a vida ressurgisse de onde a morte viera. E o que vencera na árvore do paraíso, nas árvore da cruz fosse vencido.”
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