O Poverello de Assis palmilhou a estrada de sua existência no e a partir do Evangelho de Cristo. Foi na Sagrada Escritura que Francisco encontrou aconchego, conselho e exortações para sua vida. Na Palavra de Deus o Homem de Assis soube certamente buscar o que ansiava sua alma, e estabeleceu nesta Palavra o fundamento de sua vida.
São Francisco radicalmente viveu o Evangelho, não porque era um homem santo desde seu nascimento, pelo contrário, soube abrir espaço em seu coração para escutar, amar, refletir e viver a Palavra de Deus. Seu Hagiógrafo, Celano escreve que Francisco era uma homem sem muita instrução, no entanto, iluminado por Deus acolheu a Boa-Nova e a colocou em sua vida.
“Francisco embora não tenha tido nenhum estudo, aprendeu a sabedoria do alto, que vem de Deus, e iluminado pelos fulgores da luz eterna não era pouco o que entendia das sagradas Escrituras. Sua inteligência purificada penetrava os segredos dos mistérios, e, onde ficava fora a ciência dos mestres, entrava o afeto cheio de amor. Lia, às vezes, os livros sagrados e o que punha uma vez na cabeça ficava indelevelmente gravado em seu coração. Usava a memória no lugar dos livros, porque não perdia o que ouvia uma vez só, pois ficava refletindo com amor em contínua devoção” (1)Embora Francisco mesmo em seu testamento considerava-se “iletrado”, ele soube profundamente compreender a Palavra de Deus. Para tanto, o método do Poverello é simples. Podemos compreendê-lo em três palavras: ouvir, refletir e viver. Ouvir no modo franciscano não significa uma predisposição da orelha para ouvir a algo que me é dito, ouvir está na vertente do auscultar, que por sua vez diz do modo simples de ouvir atentamente. Quem ouve atentamente a algo ouve com o coração. Uma vez ouvido com o coração Francisco memoriza a Palavra de Deus e reflete profundamente com amor em seu coração, aqui é necessário dizer que para este modo de refletir a Palavra de Deus é preciso abrir-se a luz da divina sabedoria. Quando nos ‘pré-dispomos’ a refletir algo sob a luz divina percebemos que tal reflexão flui em nosso coração, pois é próprio Deus agindo em nosso ser.
A palavra reflexão denota um modo próprio de voltar-se sobre si mesmo. O nome flexão diz do ato de dobrar-se, curvar-se. O prefixo re apresenta o modo próprio desta ‘dobradura’ – ‘curvatura’, ou seja, denota ‘voltar’, ‘retornar’. Então, re+flexão diz do modo de dobrar-se novamente, de curvar-se repetidas vezes sobre si mesmo. Justamente é isto que Francisco faz em sua vida, repetidas vezes reflete a Palavra de Deus, no entanto, este ato reflexivo não é mecânico, muito menos por obrigação, e sim é acompanhado da liberdade de espírito. Celano assegura que Francisco reflete continuamente com AMOR. Aqui é necessário destacar que é uma reflexão amorosa da Palavra de Deus. Refletir com amor, então, é parte integrante da vida de Francisco, e certamente, isto ele o fez durante toda a sua existência.
A terceira palavra do método de Francisco é ‘viver’. O Poverello não só refletia, mas tornou-se a Palavra de Deus viva. Quando se reflete com amor o que se reflete torna-se vivo. Tal reflexão, então, conduz-nos a vivenciar a Palavra de Deus, aqui também quem nos impulsiona a viver a Boa-Nova é a própria luz da sabedoria Divina, ou seja, Deus mesmo colabora para com a vivência de sua Palavra.
Sendo assim, ouvir, refletir, amar e viver a Palavra de Deus foi o cotidiano da vida de Francisco. Por isso, entendemos que “para o santo de Assis a Sagrada Escritura se define como uma pedagogia divina. Nela e com ele Francisco cresceu até a maioridade do amor. Através da Sagrada Escritura atingiu a união com Deus e a contemplação, que Boaventura chamava de o prêmio da felicidade eterna” (2) T
(1) 2 Celano 102.
(2) DRAGO, Augusto. Palavra de Deus, Sagrada Escritura. Dicionário Franciscano. Petrópolis: Vozes, 1983, p.532.
Fonte: http://www.reflexoesfranciscanas.com.br
Acessado em 13/02/11
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