quarta-feira, 18 de maio de 2011

Clara de Assis: "A mulher que revalorizou as mulheres em Deus"

Por Frei Fernando de Araújo, OFMConv.

sta claraProcurando fazer uma contextualização da questão da mulher na antigüidade, percebem-se dois momentos distintos. O primeiro é a importância das mulheres para as culturas mais antigas, onde elas eram consideradas como aquelas que conseguiam realizar o maior milagre, que era o de gerar a vida. Por isso, naquelas culturas, as mulheres, muitas vezes, eram consideradas como deusas e eram responsáveis por toda a organização da comunidade. Mas é importante destacar que existia uma harmonia entre mulheres e homens. David Elkins afirma que, "apesar de evidente a preeminência das mulheres tanto na religião como na vida, não havia indícios de alguma desigualdade flagrante entre mulheres e homens e, tampouco sinais de que as mulheres subjugassem ou oprimissem os homens."

 

O segundo momento é no período medieval, onde a mulher é praticamente excluída totalmente da vida das cidades e deviam cumprir em tudo as ordens do homem; neste caso, do marido e do pai. Neste período da história da humanidade, as mulheres eram consideradas "a imperfeição do masculino", ou seja, um macho que falhou, isto é, não conseguiu sê-lo e resultou num projeito arruinado. E foi com este pensamento prevalecendo que Clara de Assis mostrou uma realidade totalmente diferente daquilo que pensavam as autoridades religiosas e políticas de então.

Ainda na época de Clara, a Igreja era um sistema de poder, em que a mulher era considerada "culpada" pelo pecado, pois foi por meio de Eva que o pecado entrou no mundo e, por isso, todas as mulheres eram consideradas cúmplices do pecado e da tentação. Mas, também, existiam mulheres que, com sua coragem e determinação, mostraram que tinham seus lugares na sociedade e na Igreja. Dessa maneira, Clara de Assis merece destaque especial, pois recuperou o lugar da mulher na sociedade medieval. Uma das primeiras tarefas de Clara foi despertar todo o "sistema" para uma nova consciência: humanizar o mundo - tarefa dos homens e das mulheres. Este é um exemplo que deu certo nos projetos de Francisco e de Clara.

Diante da opressão que sofriam as mulheres, Clara soube assumir profundamente todas as suas potencialidades femininas como enriquecimento da opção pelo Evangelho de Jesus Cristo. Ela mostra com isso, a profunda e verdadeira opção de Jesus e como as mulheres de seu e do nosso tempo puderam e podem fazer uma opção livre e verdadeira pelos autênticos valores evangélicos!

Com essa nova consciência da maneira de ver a realidade da mulher, Clara traz para as mulheres de sua época a dimensão substancial de seu descobrir-se como mulher. E essa sua experiência prevalece até os dias de hoje, em que elas precisam entrar nesta dimensão do "ser mulher", de serem "femininas" e descobrirem como Clara, os verdadeiros valores que as conduzem para uma busca real da essência do ser mulher!

Clara demonstra, através da raiz e do desenvolvimento de sua jornada espiritual que, como mulher, é preciso escolher um caminho próprio, determinando seus atalhos com esforço e angústia, em direção à identificação de seu individual-feminino com Deus. O seu feminino está totalmente em Deus e, quando se auto-revela, pode tornar-se "sacramento" profundo da presença e da atuação divina.

E todo este movimento liderado por Clara de Assis, faz com que nasça um novo conceito de mulher. Ela mostra que as mulheres têm uma identificação própria, têm um jeito todo particular de ver as coisas, o mundo e as pessoas e, principalmente, uma maneira toda diferente de ver e de relacionar-se com Deus e sua atuação na história. Por isso, Clara teve uma "luta social" muito grande na tentativa de mudar a situação que prevalecia na sua época, com relação às mulheres.

Madura, despojada, pobre e livre, Clara é o protótipo da mulher disponível diante da plenitude de Deus. E isso, porque está totalmente aberta em sua psicologia integrada e sensível. Ela se fez capaz de experimentar-se como peregrina caminhante em busca do Reino de Deus, que vem. Exatamente todo o seu ser de mulher é colocado à disposição deste Reino que já vive em si e em suas Irmãs, com todos os homens e com as criaturas todas de Deus. Isso era algo inédito para as mulheres, principalmente, para aquelas que abraçaram o projeto de seguimento de Jesus Cristo, como Clara de Assis.

Toda essa forma de valorizar a mulher, o feminino é colocado por Clara de uma forma contemplativa, pois ela ensina que o seu estilo não é o de impor, nem de definir, mas de persuadir com amor e delicadeza, acompanhar, velar, cuidar, aguardar, nutrir a partir do interior de quem fala.

Clara é uma mulher na sua totalidade! Não transmite conceitos. Ela sabe que conceitos são facilmente esquecidos. Também não transmite informação, mas vive a experiência de Jesus Cristo no seu modo de ser mulher. Por isso, olhar para a vida, a vocação, a atuação de Clara é olhar para a raiz da vocação da mulher franciscana, que é edificar a Igreja, atualizando a palavra do Evangelho em e com a sua própria vida! T

Fonte: http://www.reflexoesfranciscanas.com.br/search?updated-max=2011-05-10T00%3A03%3A00-03%3A00&max-results=5

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